«Arranquei um piolho fémea dos cabelos da Humanidade. Viram-me ir para a cama com ele durante três noites consecutivas e, ao fim de alguns dias, milhares de monstros, formigando num só compacto de matéria, vieram à luz» Conde de Lautréamont, Os Cantos de Maldoror
- “Luzes vermelhas, peles, carne viva, cabelos, brilho, tudo negro, tudo alienígena – eu não sou deste lugar. E ando, e olho, e vejo-me na expressão dos outros, aquele que não sou eu, aquele que me surpreende por entre os espelhos, apenas mais um, em completa mistura com as gentes, em corpo, e tão distante nas fontes, para tão fora projecta o hipotálamo, as supra-renais, para tão longe a sua mente se-lhe escapa... E tão perto das gentes.
Que gentes são estas periclitando na amálgama de carne(?) em exposição, crua, fria ao toque, que gentes são estas? Estas gentes que fingem dançar um som deveras horroroso, que, com esforço, procura aproximar-se do incomensuravelmente mais belo ruído dos doces dispositivos termonucleares em ignição, da beleza interior desse terno grito de uma criança trespassada pelas lagartas de um tanque no Iraque... mas sem sucesso. Um som deveras horroroso que eles fingem dançar. E abanam-se. E saltitam sem ritmo. Uma amálgama fora de ritmo, pavoneando-se, olhando por cima do ombro da presumível cara-metade na esperança de um encontro libidinoso de olhares com um estranho... tudo resumido a não mais do que sexo, mecânico, robótico, desfazado de sentido, desprovido de valor, arrítmico com o som horroroso das larvas a despertarem dos casulos instalados na genitália destas gentes...”
E foge. E perguntam-lhe porquê. E não sabe responder. E engana-se nas portas, e esbarra em seios, e leva encontrões musculados, e suores, e vómitos!... e a saída.
E avança, a hedionda criatura, pela noite, desafiada, com chuva, encharcada, doente, atravessa os caminhos onde, antigamente, floriam malmequeres azuis. E quão mal lhe queria a chuva que, com cada safanão, lhe roubava dos olhos a água que derramava no chão. “Que apareçam por entre as sombras que me atemorizam!, envia, criador, mais anjos para me matar!, não tenho medo, eu que avanço por entre as águas com que me encharcas e confundes o olhar! Atira-os contra mim, eu que não me pretendo matar!, lança toda a tua raiva para quem não esperavas voltar!” – o frio gélido espicaça-lhe as espinhas, o focinho desfaz-se-lhe por entre àguas verticais, e os pêlos já não o são... já não escuta, apenas o ímpeto, apenas o instinto da única atitude sensata de uma criatura louca no mundo da carne artrópode...
...assim decide morrer o monstro, como último Homem, por amor.
- “Luzes vermelhas, peles, carne viva, cabelos, brilho, tudo negro, tudo alienígena – eu não sou deste lugar. E ando, e olho, e vejo-me na expressão dos outros, aquele que não sou eu, aquele que me surpreende por entre os espelhos, apenas mais um, em completa mistura com as gentes, em corpo, e tão distante nas fontes, para tão fora projecta o hipotálamo, as supra-renais, para tão longe a sua mente se-lhe escapa... E tão perto das gentes.
Que gentes são estas periclitando na amálgama de carne(?) em exposição, crua, fria ao toque, que gentes são estas? Estas gentes que fingem dançar um som deveras horroroso, que, com esforço, procura aproximar-se do incomensuravelmente mais belo ruído dos doces dispositivos termonucleares em ignição, da beleza interior desse terno grito de uma criança trespassada pelas lagartas de um tanque no Iraque... mas sem sucesso. Um som deveras horroroso que eles fingem dançar. E abanam-se. E saltitam sem ritmo. Uma amálgama fora de ritmo, pavoneando-se, olhando por cima do ombro da presumível cara-metade na esperança de um encontro libidinoso de olhares com um estranho... tudo resumido a não mais do que sexo, mecânico, robótico, desfazado de sentido, desprovido de valor, arrítmico com o som horroroso das larvas a despertarem dos casulos instalados na genitália destas gentes...”
E foge. E perguntam-lhe porquê. E não sabe responder. E engana-se nas portas, e esbarra em seios, e leva encontrões musculados, e suores, e vómitos!... e a saída.
E avança, a hedionda criatura, pela noite, desafiada, com chuva, encharcada, doente, atravessa os caminhos onde, antigamente, floriam malmequeres azuis. E quão mal lhe queria a chuva que, com cada safanão, lhe roubava dos olhos a água que derramava no chão. “Que apareçam por entre as sombras que me atemorizam!, envia, criador, mais anjos para me matar!, não tenho medo, eu que avanço por entre as águas com que me encharcas e confundes o olhar! Atira-os contra mim, eu que não me pretendo matar!, lança toda a tua raiva para quem não esperavas voltar!” – o frio gélido espicaça-lhe as espinhas, o focinho desfaz-se-lhe por entre àguas verticais, e os pêlos já não o são... já não escuta, apenas o ímpeto, apenas o instinto da única atitude sensata de uma criatura louca no mundo da carne artrópode...
...assim decide morrer o monstro, como último Homem, por amor.
(mix de Nosferatu_murnau/herzog + Metastasis_xenakis)
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