22 de setembro de 2009

watch without a craftsman

(Bat for Lashes - Glass)


"Below me, in the sand, the secret shape of my creation is concealed, buried in the sand's future.
A world grows up around me. Am I shaping it, or do its predetermined contours guide my hand?
Perhaps the world is not made. Perhaps nothing is made. Perhaps it simply is, has been, will always be there... A clock withou a craftsman."

Alan Moore - Dr. Manhatam exile in Watchmen.

"If only I had known, I should have become a watchmaker."
Albert Einstein

11 de setembro de 2009

6 de setembro de 2009

jogos tradicionais

"Té-te-re-reee!!..." - as cornetas disparavam de sítios desconhecidos, ruela abaixo, ruela acima, nem a cal nem o pó respondiam e os velhos, sentados em agrupamentos dispersos, faziam-lhes companhia nesse silêncio daqueles para quem o Tempo se desenvolve de modo diferente para com os demais. A "emoção da tourada" andava de braço dado com o tecno dos carrosseis - às moscas - e a praça - de toiros - era um mero buraco circunferencial ladeado de alvos pintados em muretes de madeira vermelha, nos limites daquela arena improvisada, escondida por entre canaviais e searas de milho.
Um puto correu - sabe-se lá de onde - e saltou lá para baixo, ao que passou a encarnar um boi, correndo em círculos concênctricos, sgundo uma trajectória espiraloide, descrevendo desenhos pontilhados pelas suas sapatilhas´.
É nisto que um velho, de boina por sobre a fronte, surge do meio das canas, arregaça as mangas da sua camisa suada - porventura seria a mesma que houvera usado toda a semana - e levanta uma espingarda horizontalmente, à altura do peito superior, faz pontaria e... dispara. O puto-boi dá um gracioso salto no ar, uma vez que fora atingido num calcanhar, pelo que a perna é projectada numa direcção enquanto que o corpo dá uma reviravolta para trás, lá vai ele, acabando por enbater na areia seca da arena e, desgracem-se os estéticos, tingindo-a de salpicos acastanhados - PUM.
"E com isto, a bem-dezere, vam catro! ...raça dos gaiatos..."

3 de setembro de 2009

ouroboros

(Laurie Anderson - Superman)

When Love is gone... there's only Justice...
And when Justice is gone... there's only Force...
And when Force is gone... there's only Love.

30 de agosto de 2009

Voo do Pintaralho

O toque aveludado das notas fluía na densa atmosfera, penetrando na sua invisível teia abafada, apesar das largas janelas esvaídas para a rua. Era-lhe difícil respirar e a cabeça doía-lhe. O peito implodia num sufoco progressivo que as teclas acariciadas pareciam não conseguir corresponder… uma ingratidão muda para com esse gesto primário de ternura que as fazia viver.
“Não! Não é isto que o meu corpo quer ouvir!” gritou interiormente, ouvindo-se, porém, tão claramente quanto as melodias que já não tinha a certeza de serem reais e, rebolando as têmporas por entre o abraço apertado da escuridão, deixou-se enterrar vertiginosamente para trás, com o piso fugindo-lhe dos pés na inspiração de mais um som vazio, com a nuca embatendo nessas molesas e a consciência afogando-se nesse arrepio.


"Mas… que crescendos tão doces, que toque tão suave, que segurança tão atemporal! Ah!", quão impossível lhe parecera esse estático orgasmo vegetal, mas quão pacífico na descida quanto a queda para outras alturas.
Um corpo aproxima-se-lhe dos parapeitos e a sua visão atira-se-lhe para fora dos aposentos onde as teclas batiam…. As vestes envolvem-se-lhe nos braços, percorrendo-lhe a pele descuidada, mas não sente comichão. Ali os ares escorregam mais depressa que os sentidos lhe permitiam discernir, e a música, apesar de espacialmente confinada ao mundo que deixara, eleva-se-lhe no espírito como se cada célula lhe fora um ouvido, pulsando notas invisíveis, qual som no vácuo.
“Adeus homem-galinha que todas as noites te empoleiras no beirado… o meu voo faz-se sem asas e o teu peso de Homem não te permite voar” – gritou, em direcção à estranha lua que várias voltas dava no espectro de uma noite só…


“Cóoo… coroc…” – o burgesso animal rebolou sobre o papo e estatelou-se na calçada, esborrachando o pacote de pipocas temperadas com um molho diferente – “Amanhã visitar-te-ei de novo, assim que me consiga lavar… é que nós, os homens, gostamos tanto de banho quanto uma galinha de ovos, e essas águas apenas vertemos para não mais nos preocupar. É essa a nossa generosidade”.
“Está calado e cala-te gordo animal! Não te assaria no forno nem que foras depenado! Nestas alturas apanharei andorinhas e jamais comerei galinhas, nem em canjas, nem em migas!"


Sobre a visão do arregalado olho lunar, o pintaralho esvai-se em molhos vários, esborrachado no chão, afastando-se na subida dos lençois enrolados em ventos, dançando sós nessas alturas inóspitas em que ousara voar.

4 de agosto de 2009

Twitter...

"O Twitter não é mais do que a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até ao grunhido."

José Saramago

16 de julho de 2009

outra vez o tempo

O tempo demora imenso a passar mas, depois de ter passado, muitas vezes é como se simplesmente nunca tivesse existido.
É banal falar-se na relatividade temporal, mas então que falar desses tempos longínquos da nossa infância que convivem em lugares especiais, tão especiais como esse tempo da semana passada em que (...) ou antes do pré-"mês-de-março", tão inesquecível em quantidade quanto de esquecível teve o mês seguinte...
São estes "tempos" que vivem na minha memória que considero atemporais, fora do tempo, mas, apesar de toda essa presença pujante, não consigo vivê-los novamente.
E... para quê? ..se lhes guardo saudade será apenas e só pela dor de os ter perdido, mas não quero vivê-los outra vez, gostaria antes que tivessem continuidade. Desgraço-me perante os tempos descontinuados, os projectos inacabados... desenganem-se aqueles que dizem que "um projecto inacabado é uma lição para um projecto que há-de vir", porque a realidade é bem mais crua. A realidade é que não existe qualquer glória nessa "aprendizagem pela dor".
A "aprendizagem pela dor" serve apenas para que aprendamos a DESLIGAR, para que aprendamos a ser INDIFERENTES, e para que aprendamos a "viver a vida", como tantos dizem, quando esse "viver a vida" não é mais do que fazer o que nos der na gana sem pensar nas consequências, viver para o presente, para o nosso próprio umbigo... nomearei isto de "umbigo do presente", ou seja... cotão.
A "saudade sem morte" é a coisa mais estúpida que pode existir porque sem morte a saudade não tem razão para existir. O presente tem esse nome porque cada dia é uma oferta para que se possa acabar os projectos adiados, essas descontinuidades a partir das quais construímos essa "saudade idiota", quando afinal todos os dias nos são dados para que ela não tenha razão de existir!... a INDIFERENÇA, esse "aprender pela dor", esse cotão da existência... tem os dias contados porque em vez de sermos vencidos, insistiremos, até às últimas consequências, até ao único momento em que fará sentido sentir saudade, até à morte.
Convencemo-nos de que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes, quando, afinal, nos deixámos matar por dentro, sim!, ficámos realmente mortos pela indiferença, pelo "isso já não me afecta"! Remexamos nas feridas, abramos as crostas para que rebentamos em sangue e para que doa, para que a dor seja insuportável e não haja mais nada a fazer do que... AGIR! Chega de fugir, chega de "fugir para viver mais um dia", vamos acabar os projectos adiados, aqueles de que outros decidiram fugir por serem fracos, vamos tomá-los por nossos e não ser atraídos pela vaga de cotão mundial!, abramos as feridas, jorremos em sangue, mas fá-lo-emos juntos!

13 de julho de 2009

escrever, escrever...

...o impulso de o fazer, neste instante, é tão somente por uma razão prima, ou mesmo gémea, da acção contrária que, durante meses a fio, foi gravando o silêncio, em tons de brilho digital, que encancere o cérebro, por dentro, como o cansaço tépido de uma noitada embrutecedora em frente a um qualquer ecran.
Mas aqui estou, agora, não como em tempos, mas AGORA, por mais inútil que seja essa vencida afirmação de Presente, aqui estou, por mais inútil que seja a escrita, por mais irrelevante que EU seja... existir para o nada, existir para a Web.
È sem nada para dizer que me convenço desse suposto ideal do "desejo de ser inútil" quando, afinal, antes de ser já o era, e estas "masturbações dedálicas" mais não são que a expressão enfadonha d'um desejo de utilidade.
Quero ser útil. Mas... de uma forma que não me dê muito trabalho.

Acho que é apenas isso que tenho a dizer a uma Internet que já sabe tudo. ...mais um balde de merda (o seu manjar).

23 de maio de 2009

hieróglifos quebrados de estrelas

(Joni Mitchell - Woodstock)

"Não tenho medo de um exército de leões liderados por um carneiro, mas de um exército de carneiros liderados por um leão."

Alexandre Magno

26 de março de 2009

5 de fevereiro de 2009

Google is watching you!



« Depois do Google Earth ir ao fundo dos oceanos, chega agora a vez do Google Latitude localizar geograficamente os nossos contactos através do telemóvel (...) O objectivo é poder localizar as pessoas onde quer que estejam e localizá-las no Google Maps (...) A partir daí, pode dar-se indicações à pessoa localizada, seguir os seus passos ou, simplesmente, convidá-la para almoçar (...) há sempre o risco de a privacidade poder estar em causa... a este respeito, a empresa norte-americana reconhece “o carácter sensível” do novo serviço mas insiste nas garantias de segurança que os utilizadores vão ter. “Tudo no Google Latitude é opcional. Podem não só controlar quem vê a vossa localização, mas também decidir em que sítio vos vão localizar”, ou ainda “podem escolher não serem vistos”, disse a Google (...) Disponível em 27 países, entres os quais Portugal, o serviço deverá ser estendido progressivamente a outras regiões do planeta. Apesar de ter sido destinado essencialmente para os telemóveis, o Latitude pode igualmente ser usado através de um computador. Segundo a CBS, o Latitude usa o sistema GPS e triangulação por torres de comunicações móveis. O software procura as três torres mais próximas e, com o GPS, combina os dados para mostrar onde determinada pessoa está. »

04.02.2009 - 15h23 Rafael Pereira in Público Online

13 de dezembro de 2008