Num acto estrondoso de despojamento virtual, percebo que um blog não passa mais de pornografia intelectual ego centrista.
Nele ditamos as regras aparentes daquilo que somos e daquilo que queremos, num acto estranho de revelação das entranhas, à escala mundial.
A exposição das vísceras faz-se diariamente com o intuito de fazer girar o mundo, fazer com que este, olhe-nos nos olhos e diga “afinal és um entre milhões”.
Contudo como fazer isso, o corpo deixa de ter forma e subjuga-se à imagem virtualizada de cada um. A retenção corpórea acaba e nele sentimos o conforto da omnipresença e do infinito. Ter acesso a tudo através de um click, livrarmo-nos de tudo como quem vira uma página, esquecermo-nos daquilo que somos, são facilidades inesgotáveis no mundo virtual….
Todavia ao mínimo incómodo de uma mosca lembramo-nos que a barreira do corpo continua, as artroses nos dedos, a dor latejante dos cotovelos e o rabo dormente, não nos deixam esquecer que por mais que queiramos não conseguimos, continuamos presos a uma carcaça que nos impede transcender à real existência do ser, tal como queríamos que ele fosse, ausente de matéria, de constrangimentos onde o nu da alma supera o nu do corpo. Apercebemo-nos então, que afinal somos mais um entre milhões continuando a definhar fatalmente com as malfeitas mundanas sem transcendências, assoberbados de moralidades e de contradições sociais.
2 comentários:
A intelectualidade não é mais que a tentativa, futuramente vã, mas momentaneamente suficiente, de segurança num mundo de matéria efémera; penso que a questão não se prenderá necessariamente com matéria e espiritualidade, ou ausência de matéria, mas antes com esse carácter efémero do nosso ser para o qual a ideia de uma espiritualidade universal é reconfortante. Antes de me livrar da minha carcaça física eu quero ser imortal, mesmo que dessa imortalidade advenha a não-experiência do físico, eu quero prolongar a minha mente e o meu conhecimento para sempre, infatigável, em direcção ao infinito da progressão geométrica do conhecimento... Razão é poder, a racionalidade não é mais que essa tentativa de controlar a realidade (e os outros). Mas se virmos que o limite dessa progressão tende para "mais infinito", então facilmente vemos que essa meta é inatingível, é inatingível também porque para o objecto ser entendido tem que ser visto de fora, e nós estamos dentro, vemos o mundo pela condicionante física qu é a nossa espécie. Como tal, a única solução é a Arte e a inacção. Um doce sorriso nos lábios e os olhos embriagados perante a destruição de tudo o que conhecemos, isso é belo, isso é trágico, mas é a única coisa que nos faz humanos.
(...) para além do mais, a realidade é que NINGUÉM VÊ ESTE BLOG SENÃO NÓS MESMOS... a ideia de lançar uma garrafa com mensagens ao oceano é bastante bela, mas a realidade desse acto é que o mais provável é morrer nele próprio, um acto morto à nascença, um grito mudo, nem que seja um fútil TAG, entre MUITOS outros. Todos damos opiniões - na sociedade de hoje em dia a informação é-nos chegada por essas mesmas opiniões. Ninguém quer ouvir um especilaista a falar do que entende, isso é chato, aborrecido, cheio de pormenores técnicos, a verdade é que preferimos que ALGUÉM nos explique as coisas "de forma simples", de preferência "com bonecos", ou porque não "em vídeo"? Alguém que não entenda muito da matéria, alguém que tenha lido "por alto" o artigo que não tivémos paciência de ler no jornal... mas não serão os jornalistas esses mesmos "alguém(s)"? Os jornalistas incultos, incompetentes, que baseiam as entrevistas em entrevistas e não na obra do autor, esses jornalistas (que são assutadoramente MUITOS) mais não são que o primeiro passo em falso num abismo de "informação" descontexualizada e imberbe. Numa época em que o tempo é dinheiro e em que tudo acontece em simultâneo não existe TEMPO para compreender a fundo, para saborear, para usufruir de uma única linha de pensamento... HAIKU. Tudo o que sei, tudo o que sou, acaba então por ser um DECALQUE de "experiências informativas passadas", da TV, dos jornais dos quais apenas li os títulos, de toda essa amálgama de merda a que um filho da puta chamado WARHOLL nomeou de "CULTURA POP". A cultura POP é a ausência de cultura, é a superficialidade, é aquilo a que alguém chamou de "PROFUNDAMENTE SUPERFICIAL", é merda, e merda é precisamente o que nós somos. "Exercício de pornografia intelectual"?? Eu diria antes "exercício de imitação de exercício"... como podemos nós acharmos que somos algo digno de egocentrismo quando tudo aquilo que somos é decalque de algo já feito? Não é crime querermos lançar mais "coisas para o mundo", querermos repetir coisas repetidas sobrerepetidas e relidas, somos iguais, este blog é igual aos outros, APENAS QUANDO SOFREMOS, QUANDO NOS ABRIMOS, QUANDO VOMITAMOS PARA O MUNDO, QUANDO FAZEMOS ALGO QUE NOS JULGÁVAMOS INCAPAZES, QUANDO FAZEMOS ALGO QUE PARA NÓS É DIFÍCIL, APENAS NESSAS ALTURAS SOMOS DIFERENTES, porque a difErença que faz falta no mundo, neste momento, é dizer "sim, eu choro", "não EU NÃO SEI ISSO", "ñão sei quem sou", "não sei o que quero", "NÃO SEI NADA".
Penso que nunca houve uma época na história da humanidade em que estivéssemos tão controlados e ao mesmo tempo nos sentíssemos tão livres... às vezes penso que apenas se estivesse preso, se fosse pontapeado e torturado todos os dias, penso que apenas aí eu seria realmente livre, porque se isto é liberdade de onde vem a minha angústia? De onde vem este sentido latejante de alienação e desconforto constante e infatigável? Sempre que tudo está bem comigo não consigo deixar de sentir que existe algo inísível que não consigo curar.
Faz bem escrever; faz bem gritar coisas para o mundo, mesmo que sejam decalques; faz bem expandir, mesmo que isso seja repetido e falso em análise exterior; faz bem FAZER; faz bem a acção, mesmo que resulte numa inacção universal; faz bem chorar e faz bem nada fazer - tudo faz bem. É importante chamar a atenção para o facto de não estar a dizer nada de novo? Não faço ideia. Estou completamente vazio neste momento.
PS: Para termos mais "audiência no blog basta dizer algo que apareça nos motores de busca:
"puta, caralho, cona, merda, sexo, foder, foda, cagalhão´"
(se acham que isto possa ter sido "incoerente" com o que foi dito, apenas posso dizer que a coerência é ser precisamente incoerente - é na incoerência assumida de acordo com uma posição de coerência que a luta contra uma sociedade da falsidade se faz)
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