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...há dias com uma estranha capacidade de se metamorfosear, como se num momento estivesses numa paragem de autocarro, numa biblioteca a estudar, e noutro tudo explodisse e se recombinasse numa combinação absolutamente improvável!, depois deitas-te, vais dormir, recombinas todas essas imagens em sonhos, viajas ininterruptamente pela noite, para no fim acordares, em calmaria, para um contrastante "dia de nevoeiro".
Hoje acordei para uma manhã enublada. As cores brilham do exterior da janela através de uma matriz baça, cinzento, azul, branco sujo e matizes amareladas, brilho fosco... para onde foi a noite circense? O vermelho, o laranja, o roxo dessa camisola? ...foi ontem, mas será que tudo aconteceu realmente?, ou foi apenas mais um desses sonhos em que não tenho mão, como uma Alice num país de maravilhas tresloucadas a dançarem à sua volta, mas esta sem lhes poder tocar, em momentos sobrepôe-se aos acontecimentos, cresce desmesuradamente, noutros diminui ao tamanho de um insecto, sendo dominada por toda a magnitude do ambiente... mas em todos esses momentos a Alice esteve fora, expectante, espectadora, personagem principal de um filme lynchiano, personagem secundária da vida real.
Segui a estrada com uma leve ideia de onde me haveria de levar, segui-a descomprometidamente, perdendo-me deliberadamente e então apareceste, uma coelha vestida de roxo, dançante e coxa... e a música era de outro mundo, um mundo onde ainda se vibra ao som de "saturday night", de um "é o bicho é o bicho"... "onde estou eu", pensei, o que está a acontecer?.., estarei a perder controlo sobre esta realidade? E sangria, vinho e cerveja, sangria entornada, coelha roxa tresloucada, e eu...
...e eu a desejar esta coelha vestida de roxo que me quer matar...
...mas acordei para uma manhã enublada, as cores brilham em matizes de branco, o vermelho circense já se foi... estou sóbrio, and the purple rabbit was gone.
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2 comentários:
Essa coelha é uma perigosa!
o facto de ela me "querer matar" não é mais que uma metáfora para a minha insegurança...
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