14 de janeiro de 2008

(a)normal fantasiar

Alguém sabe o que é o "amor platónico"?

...apesar de todas as definições "científicas", não me parece que haja mal em fantasiar o mundo, penso antes que o mal está, precisamente, em o mundo não estar minimamente preparado para as nossas fantasias, e quando falo de mundo, falo nas pessoas. Porque o que é o mundo senão uma gigantesca fantasia?

Existem, ainda, alguns resistentes, como o indivíduo do movimento “Free-Hugs”, que distribui um pouco de carinho por desconhecidos e é visto, por praticamente todas as pessoas, como um autêntico anormal. E ele é realmente um anormal, porque o que é normal é nunca olhar as pessoas, é ignorá-las, ou então recorrer à segurança da frieza e da brutidade, é viver a paredes meias com vizinhos que, ao nos verem de manhã, nos cumprimentam com um belíssimo “desviar da cabeça”, um carinhoso grunhido e um simpático bater da porta da rua. Como é bela a normalidade!

Eu também sou normal.

Mas... contudo, de tempos a tempos, percebo que não sou feliz assim. De vez em quando apercebo-me de que sou “um normal” com um profundo desejo de anormalidade a querer saltar cá para fora, sentindo-me impelido, tal como alguém com trissomia 21, a desejar abraçar todas as pessoas e a apaixonar-me por completos desconhecidos. O meu lado “normal” conhece perfeitamente os meandros da amizade e do amor físico e mental, mas o meu lado anormal há muito que compreendeu que isso pode ser extrapolado para todo o mundo, para tal basta haver disponibilidade, abertura de espírito, entrega, altruísmo e uma completa temeridade perante algo que nos poderá magoar de forma irreversível. Um sentido apurado de detecção de feromonas e um profundo desejo interno daquilo que a dopamina provoca no cérebro...
Terei construído um raciocínio científico nas últimas linhas? Talvez... mas cuidado, porque existe uma tendência incutida pelo Sistema em confundir ciência com cepticismo... por isso, caros “cientistas cépticos”, vocês que há muito tempo se deixaram de deslumbrar pelo mundo, vocês que estão formatados pelo nosso fantástico sistema (de “ensino”), vocês que acreditam vir a concretizar-se pela subida na “carreira” e pelo aumento do ordenado, vocês que assassinam o mundo natural com os vossos químicos e o metafísico pela falta de fé, lembrem-se que a ciência nunca bastará para compreender a estrutura do universo (que, para além de matemática, é também semãntica) e, acima de tudo, não se deixem levar pela “normalidade”, porque o ser humano é tudo menos normal.
Um brinde aos anormais, aos artistas, aos músicos, aos poetas e, porque não..., aos Arquitectos “inconscientes”?

Vivemos toda a vida com medo de agir, arrastando processos simples em coisas que se tornam dolorosas, por vezes temos a confirmação de que "n
inguém sabe o que dizer”. Ninguém se sente seguro perante o desconhecido, mas há sempre alguns que partem, em viagem, vão, em deslocamento físico através do espaço, ou mesmo parados, a sua mente dispara e, mesmo com medo profundo, eles vão...
Depois, há os que ficam.

...Talvez seja essa a única cura para a efemeridade, tentar encontrar um qualquer (as)significado(?) e agir, abusivamente. Onde estão os cientistas não-cépticos?

"Enganei-me; amanhã é outro dia."

*

«Ninguém é insubstituível, até quem nos abraça.»

Sem comentários: