13 de janeiro de 2008

estavas enganada, mãe

Este lugar poderá ser "o fim de mundo que viémos a buscar”, mas este “fim de mundo” está sobrelotado.

“Adeus. Vou partir” – e vomito-o pela consideração que não tenho em decidir nunca mais te ver, porque é de ti que vou fugir...e de todos os outros.
Pessoas.
Um eremita; partir para onde a minha língua seja estrangeira, porque sempre fui estrangeiro numa terra onde a língua era apenas um obstáculo de semânticas falaciosas... não vos compreendo e não quero... ninguém quer.

Amo-te”; gosto de ti”; “preocupo-me contigo”; quero (...)”: sempre eu, sempre tu, sempre palavras falsas, momentos sentidos, vidas absurdas, projectos constantemente adiados. “Ama-me agora porque amanhã vou partir” – sempre o momento esporádico, sempre o presente solitário. As pessoas passam, e nós permanecemos aqui. Quem é importante agora, amanhã será outro, e o presente continua, ensurdecedor, silenciosamente repetitivo, desesperadamente só.
Um pequeno gesto, uma palavra não medida, um acidente... tudo o que basta é uma pequena discrepância no movimento caótico de partículas, e tudo muda: poderemos perder tudo aquilo que dávamos por adquirido, um mundo que cai por terra, deixando-nos sem nada.
Como é frágil a felicidade, como são finos e singulares os momentos de alegria, como é avassalador o sentimento daquilo que se dá por adquirido, a derrocada do mundo interior, a evidência da vida ser uma instância assustadoramente passageira e... extremamente curta.

Uma criança de quatro anos prepara-se para se deitar enquanto se depara com a sua futura imagem de noventa anos, no leito de morte, exactamente o mesmo leito em que se prepara para dormir, aquele mesmo lugar.
Como lhe é clara a noção de que os restantes oitenta-e-seis anos de vida passarão a correr!...e chora, porque não quer morrer. A mãe passa-lhe a mão pela cabeça, dizendo-lhe que “ainda falta muito tempo, tu ainda só tens quatro aninhos...”.
Oitenta-e-seis anos mais tarde ele está sozinho, todos os que amou partiram – “estavas enganada, mãe”.

1 comentário:

rz disse...

obrigado....
muito bom, invarialvelmente existe algo de comum a todos nós....nem que seja o sentimento de efemeridade!