7 de janeiro de 2008

eterno Presente

O que é o tempo senão... números?
Números num mostrador, caracteres num calendário, memórias, empilhamento de lixo, em apodrecimento, até que alguém o venha limpar quando já cá não estivermos. Um tempo de passagem, efémera.
Eu não sinto o tempo passar. Aqui permaneço, envolto num invólucro de carne, em constante transformação consigo e com tudo em redor, terceira pessoa em que habito, porque para mim o tempo não passa, não muda, não existe, sem passado significativo e sem futuro material: um eterno Presente de silêncio ensurdecedor.
Como é desesperante este ruído assonoro que nos assola por dentro e nos impele a disfarçá-lo pela necessidade de construção de acontecimetos, pela acção abusiva, como que para dar um sentido a algo estático, morto... uma necessidade em acreditar que as medidas entre os compassos são a própria matéria do tempo, que os houve passados e que os haverá futuros... e um medo do fim derradeiro, a dúvida da morte enquanto fim do tempo ou apenas a constatação de que esse tempo nunca existiu. Que nunca existimos.
Existiremos sem relógios...?
Sem máquinas, sem pôr e nascer do sol, sem mecanismos não existe tempo, apenas silêncio, apenas escuridão na vastidão incomensurável do vácuo espacial..!
Quanto tempo dura a viagem? Quanto entre duas singularidades para ser inteligível?, porque não há medição sem início e fim... que é da medida sem haver nada para medir?

Porque é a efemeridade que nos faz contar os segundos, porque o tempo não existe, apenas este ensurdecedor silêncio do eterno presente.
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