30 de janeiro de 2008

"Das Marchen"...mata velhos de ataque cardiaco!!!


saíram todos (quando digo todos foram mesmo todos, ficamos para aí uns 40) passado o primeiro acto, o que até nem foi desagradável diga-se de passagem, a junção de perfumes manhosos com chanel nº5 dava dores de cabeça e impedia a percepção musical, bem sei que já lá iam duas horas. Contudo FIQUEI DEPRIMIDA pela falta de abertura da classe pseudo cultural portuguesa..... a primeira, PRIMEIRISSIMA, ópera do Sr. Emanuel Nunes, fantástico compositor português e a única coisa que diziam é que a musica era insuportável, (insuportável? mas julgavam que iam ouvir o q? Wagner, Puccini, os clássicos??? amigos Musica lírica contemporânea, diz-vos alguma coisa???? pelos vistos não, pena.) sem o mínimo esforço, a mínima atenção, o mínimo nada...
Na minha humilde e leiga opinião só tenho a dizer uma coisa (ao bom género da infantil!): INSUPORTÁVEIS SÃO VOCÊS SEUS PSEUDOS DE MERDA, QUE SÓ VÃO A ÓPERA PARA SEREM VISTOS, DEVIAM APEGAR-SE A ESSES CLIHS QUE TANTO GOSTAM E NUM ACTO BENEMÉRITO DAREM OS BILHETES A QUEM OS REALMENTE QUER....

3 comentários:

Anónimo disse...

Sobre o fiasco de Das Märchen — ópera de Emmanuel Nunes a partir do texto homónimo de Goethe — já escreveu quem viu. Para Quem foi à estreia verificou que dois terços dos espectadores abandonaram o São Carlos antes do fim (mais de metade até ao intervalo). E, segundo os jornais, nas transmissões simultâneas do espectáculo para catorze salas pelo país fora, a debandada foi geral. Outra coisa não seria de esperar como reacção àquilo que António Pinho Vargas compara (e muito bem) à transmissão “em directo [de] um jogo de xadrez”. Até aqui, nenhuma novidade. Mas o Público deu uma notícia extraordinária: o musicólogo Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado da Cultura, assistiu a parte do espectáculo em Faro, no Teatro Lethes. Mas só a parte do espectáculo, porque «por razões de agenda, não pode ficar até ao fim. (e que na sala, no início da transmissão, estariam setenta pessoas). Razões de agenda? Numa sexta-feira à noite? A propósito: porque será que nenhum jornal se preocupou em ir saber quanto custou a operação Emmanuel Nunes? Nos meios em geral bem informados, com infiltrações na Ajuda e no Largo de São Carlos (oh, se as paredes do Belcanto falassem!), quatro milhões de euros é o número apontado nas versões benévolas, e quatro milhões de euros é muito dinheiro em qualquer país do mundo, mesmo nos países ricos, ainda para mais se pensarmos que essa verba não incluirá a encomenda propriamente dita. Pode ser que seja especulação anti-Pires. Claro que pode. Mas o assunto é assim tão desinteressante que nenhum jornal pegue nele?

Anónimo disse...

É só de mim ou há demasiados pseudos no mundo da arte? E não estou só a falar dos channeis nº5 que vão à ópera porque sim, porque querem ser vistos, porque fica bem, porque é suposto. Estou também a falar dos que vêm David Linch e não conseguem dizer mal porque… é David Linch, como se fosse impossível um artista estar menos bem… ou pecado dos pecados… estar simplesmente mal… Há de facto muito pouca honestidade no mundo do espectáculo… é o medo primário e recorrente de fazer figura de parvo em frente aos coleguinhas de colégio… ou a vontade de sermos diferentes, superiores…

Agora, quanto à produção propriamente dita… voltamos à mesma discussão de sempre (se bem que nunca a tenha tido contigo, RZ, mas isso é porque evito discutir estas coisas contigo) : de quem é a arte… de quem a faz ou quem a vê? Quando uma sala cheia de pessoas que, supostamente, gostam de música fica vazia, isso diz alguma coisa sobre o espectáculo em si? Ou não passam de um bando de ignorantes? Se tu saíres a meio de um concerto… és tu que estás mal ou foi o artista que esteve mal? Ou estão todos bem e, tal como nas relações, é apenas um problema de matching? Juro que não sei… sei apenas do que gosto e do que não gosto… e sei que não gosto quando me dizem o que devo achar… e detesto ainda mais quando eu próprio me imponho uma opinião antes mesmo de ver o espectáculo… e isso acontece tantas vezes… e não é só comigo! É como eu disse no início: há demasiados pseudos no mundo da arte… tanto nos que se levantam, como nos que ficam, como ainda nos que estão por detrás do palco … ;)

Anónimo disse...

Emmanuel Nunes é um génio! Não vale a pena tentar complexas formulações para dizer isto com mais detalhe ou mais pudor. E Das Märchen ficará certamente para a história como mais uma obra-prima por muito boas razões. Apesar de achar que a estrutura da peça poderia ser “emagrecida” em favor do “conforto do público”, sacrificando material sonoro que, sendo muitíssimo bom, não resulta da melhor forma dramaturgicamente, por questões de redundância. Mas é difícil encontrar falhas na estrutura musical ou no libreto, assim como na justiça que lhe foi feita pela esmagadora maioria dos intérpretes: cantores, actores, coro e orquestra.

Ainda assim, espero que esta produção de Das Märchen não fique para a história como a única ou sequer a melhor desta obra. Porquê? Porque (e não pretendo ofender ninguém) a equipa responsável pela encenação e realização plástica fez um trabalho que classificaria de medíocre. A reacção de parte do público, aliás, no final da récita, parecia reflectir um sentimento generalizado de mal-estar relativamente a essa componente do espectáculo: figurantes, dançarinos, coro, actores e cantores receberam as legítimas palmas, transformadas em ovação no caso de Peter Rundel, o director musical, e em clara homenagem, no caso de Emmanuel Nunes, mas a equipa dirigida por Karoline Gruber terá certamente sentido a não tão subtil tentativa de vaia de parte do público presente no São Carlos. E eu senti-me solidário.

Eu não faço ideia sobre qual a melhor abordagem plástica à complexa proposta de Das Märchen, mas tenho quase a certeza que esta não resulta. Os aspectos mais evidentes, para mim, são o desajuste praticamente absoluto dos figurinos, a mediocridade da cenografia, a banalidade da coreografia e a falta de pertinência de grandes partes do vídeo. Tudo junto, sobressai o desfasamento entre a realização musical e a realização plástica e a experiência total sai prejudicada: áreas extraordinariamente detalhadas e ricas do libreto e da partitura são atrapalhadas por esforços inglórios e quase patetas de sobre-ilustrar ou criar novas camadas de entendimento… mas não é preciso e transforma-se em ruído. E depois, não se concretizam visualmente ou em termos de movimento, acontecimentos e relações que, na partitura, se apresentam de forma muito subtil.

Genericamente, parece haver algum desentendimento no desenvolvimento das relações interdisciplinares que transformariam uma brilhante partitura e libreto num espectáculo de Arte Total e os “encaixes defeitusosos” notam-se demais. Mas não demais para ofuscar o génio de Emmanuel Nunes que, face à adversidade, brilha ainda mais com ou sem pseudo...